Os casos de violação ainda hoje são percebidos como eventos nos quais de alguma maneira a vítima não se encontra isenta de culpa, ou pela maneira como se veste, se comporta ou pelos lugares que frequenta. Também o anedotário popular não a poupa e encara com incredulidade a situação. Quem não ouviu ja anedotas alarves sobre mulheres, referidas como menos belas e sedutoras, para as quais a violação seria uma benfeitoria?!
O mais doloroso é que este modo brejeiro de encarar um crime que atenta gravemente contra a integridade física e psíquica das mulheres encontra respaldo no pensamento de pessoas responsáveis, autênticas autoridades em questões de sexo; cabe aqui lembrar o testemunho de Havelock Ellis (1859-1939), sexólogo muito conceituado, que escreveu:
“Há poucas dúvidas de que a alegação de força é com muita frequência utilizada pelas mulheres como a arma de defesa disponível e a mais oportuna quando a relação é descoberta. A mulher tem sido de tal maneira influenciada pela ideia corrente de que nenhuma mulher respeitável pode ter impulsos sexuais próprios que, para ir ao encontro dessa ideia, a fim de esconder o que sente ser percebido como mau e vergonhoso, e também tolo, declara que o acto nunca ocorreu por sua vontade.” (Studies in the Psychology of Sex).
O que se depreende das palavras de Ellis é que a alegação de violação é apenas uma estratégia usada pela mulher para não ser penalizada socialmente, deste modo, o seu testemunho é completamente descredibilizado e ela é duplamente vítima, vítima de violencia sexual e vítima de injustiça epistémica porque é desvalorizada enquanto sujeito de conhecimento.
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