quinta-feira, 21 de julho de 2011

Da necessidade de se refletir sobre a sexualidade feminina

A discussão sobre sexo e sexualidade, mesmo quando empreendida por filósofos, tem-se limitado na prática a exprimir um ponto de vista masculino e a refletir uma visão androcêntrica: é a maneira como os homens vivem o sexo que é explorada, presumindo-se mais uma vez que a sexualidade masculina é um universal. Esta situação é compreensível, mas não é aceitável; todavia só poderá ser modificada a partir do momento em que filósofas feministas se debrucem também sobre o assunto.
Nos nossos dias começamos a encontrar feministas que procuram contrariar a tendência androcentrica, de entre estas destaca-se Linda LeMonchec, autora de Loose Women Lecherous Men, cuja leitura recomendo vivamente. As feministas que abordam estes temas são alvo de críticas virulentas, acusadas de extremistas e de «desmancha-prazeres», as suas análises são rejeitadas liminarmente. Como o tema é complexo, instala-se entre elas certo divisionismo, por virtude de interpretações divergentes do mesmo fenómeno, habilmente explorado por quem se opõe a qualquer alteração no statu quo.
Mostrar as mulheres como vítimas sexuais e a heterossexualidade como o instrumento privilegiado dessa vitimização até pode ser verdade, mas é rejeitado por muitas, porventura a maioria. Por isso, será importante aprofundar a análise epistemológica para ver até que ponto a maioria das mulheres é afetada por uma certa forma de injustiça epistémica. Com isto quero dizer que muitas mulheres não são sujeitos fiáveis de conhecimento porque lhes faltam os instrumentos intelectuais – conceitos – para objetivarem e perceberem a situação que estão a viver. Para dar um exemplo dessa carência, recordo que no século XIX com a industrialização e a abertura do trabalho fabril a mulheres se verificava um fenómeno lesivo para os seus direitos, fenómeno esse que só começou a ser percebido na sua verdadeira dimensão e combatido com algum sucesso quando se inventou/criou o conceito de ‘assédio sexual’. Isto para mostrar que se não percebermos e formos capazes de expressar conceptualmente o que estamos a viver em termos de sexualidade também não seremos capazes de o entender e consequentemente de agir para modificar o que eventualmente nos está a prejudicar.
Concluo, apelando a muitas feministas - que frequentemente se distraem com o fait divers - para a importância de se refletir com maior profundidade; para que essa reflexão ocorra urge estudar quem já a promoveu e nos pode fornecer informações pertinentes.

Sem comentários:

Enviar um comentário