sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Sexualidade feminina e insegurança masculina

"As regras contra a liberdade sexual das mulheres têm raízes que se estendem às sociedades mais primitivas quando os homens temiam os mistérios da sexualidade feminina e do seu poder reprodutivo. Na Idade Média, para assegurar a supremacia sexual, o homem inventou o cinto de castidade. De modo a controlar o prodigioso apetite sexual das mulheres - que se temia fosse insaciável - tornou-se costume em algumas culturas remover o clitoris da mulher, eliminando assim a fonte do prazer sexual e fazendo dela propriedade do homem. A operação chamava-se clitoridectomia. Quando era considerado necessário limitar ainda mais as mulheres (e dar segurança aos homens) os labia também eram removidos. A operação continua nos dias de hoje em algumas regiões de África e do Oriente Médio onde muitas mulheres não se consideram adequadas para o casamento a menos que tenham sido mutiladas, no que agora é moda chamar-se circuncisão.” (Nancy Friday: Women on Top: How real Life has Changed Women´s Sexual Fantasies, p. 21.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Violação e culpa

Os casos de violação ainda hoje são percebidos como eventos nos quais de alguma maneira a vítima não se encontra isenta de culpa, ou pela maneira como se veste,  se comporta ou pelos lugares que frequenta. Também o anedotário popular não a poupa e encara  com incredulidade a situação. Quem não ouviu ja anedotas alarves sobre mulheres, referidas como menos belas e sedutoras, para as quais a violação seria uma benfeitoria?!

O mais doloroso é que este modo brejeiro de encarar um crime que atenta gravemente contra a integridade física e psíquica das mulheres encontra respaldo no pensamento de pessoas responsáveis, autênticas autoridades em questões de sexo; cabe aqui lembrar o testemunho de Havelock Ellis (1859-1939), sexólogo muito conceituado, que escreveu:

“Há poucas dúvidas de que a alegação de força é com muita frequência utilizada pelas mulheres como a arma de defesa disponível e a mais oportuna quando a relação é descoberta. A mulher tem sido de tal maneira influenciada pela ideia corrente de que nenhuma mulher respeitável pode ter impulsos sexuais próprios que, para ir ao encontro dessa ideia, a fim de esconder o que sente ser percebido como mau e vergonhoso, e também tolo, declara que o acto nunca ocorreu por sua vontade.” (Studies in the Psychology of Sex).

O que se depreende das palavras de Ellis é que a alegação de violação é apenas uma estratégia usada pela mulher para não ser penalizada socialmente, deste modo, o seu testemunho é completamente descredibilizado e ela é duplamente vítima, vítima de violencia sexual e vítima de injustiça epistémica porque  é desvalorizada enquanto sujeito de conhecimento.

Masturbação - a coisa mais natural do mundo

“Here is the most natural thing in the world – our own hand on our own genitals, doing something that gives us pleasure and harms no one, practicing the safest sex in the world – yet we feel guilty as thieves, our sense of self lessened when it should be heightened by mastery and self-love.
Masturbation is not, after all, a difficult skill, like learning to play the violin. The hand automatically moves between our legs in the first year of life. Something, someone gets between it and our genitals so early that most of us cannot remember. A message is imprinted on the brain, a warning so fraught with fear that long after we are grown, even after we have allowed a man to put his penis inside us, to touch our genitals, we are ambivalent about touching ourselves. We may do it, but it is a physical act against a mental pressure – this delicate movement of our fingers that is only effective when the mind releases us. Sweet as orgasm feels, we are not left with an enhanced sense of womanliness; we have won the battle but lost our status as Nice Girls.
Masturbation used to be called the great taboo for women because it was sexual satisfaction outside of a relationship. Masturbation meant a measure of autonomy, and nobody wanted women to have that much control over themselves.”
Nancy Friday: Women on Top: How real Life has Changed Women´s Sexual Fantasies, p. 19.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Sexualidade androcêntrica – das razões da sua persistência

Mesmo depois de se ter alertado para a especificidade da sexualidade feminina, continua a ouvir-se falar em orgasmo vaginal como sendo superior ao orgasmo clitoriano e o equívoco permanece. Vamos colocar algumas hipóteses explicativas.
Reconhecer que o prazer sexual das mulheres não depende directa e exclusivamente do pénis masculino é algo com que a maior parte dos homens convive mal. Reconhecer que o que dá prazer ao homem – penetração vaginal – não dá necessariamente prazer à mulher, é algo que a sexualidade androcêntrica tem dificuldade em aceitar. E por isso é que muitas mulheres, mais do que seria de supor, muito mais do que seria desejável, simulam o orgasmo para que os seus companheiros se sintam os deuses sexuais que gostam de pensar que são. Acreditar que é possível atingir o orgasmo em reciprocidade com o homem através do coito é uma crença gratificante não só para homens como para mulheres que interiorizaram este modelo sexual.
O modelo do sexo heterossexual pressupõe erecção masculina, penetração vaginal e orgasmo e mesmo para as autoridades em medicina, psicologia e sexologia corresponde ao verdadeiro sexo, sendo outras práticas percebidas como meros desvios que apenas servem para confirmar a norma. O que este modelo fez às mulheres é assunto que ou não é ventilado ou apela para conceitos como frigidez ou disfunção sexual feminina.
As mulheres continuam a não desafiar este modelo sexual androcêntrico porque já perceberam que o custo que têm de pagar, se o fizerem, é demasiado alto, podendo passar pelo desinteresse e rejeição por parte dos seus companheiros. Muitas mulheres não têm experiência sexual antes do casamento, ou se a têm é com o namorado que virá a ser marido; para além da falta de experiência, acontece ainda que estas questões não são objectivadas, não se fala nelas, o que é notório porque por exemplo, as mulheres retraem-se de fazer comentários quando o tema vem a baila e remetem-se ao silêncio.
Uma vez iniciada a vida sexual com o companheiro, a mulher percebe que, para ele, se a ama, é importante que ela tenha prazer e experimente orgasmo, ora, para não desmerecer a expectativa, naturalmente ela aprende a simular o orgasmo; investigações levadas a cabo neste domínio revelam que a percentagem de mulheres que reconhecem ter em alguma circunstância simulado orgasmo é muito alta, em alguns estudos ronda os setenta por cento, mas se calhar o número é mesmo superior.
Ora uma vez estabelecido este padrão - penetração vaginal e simulação do orgasmo -, fica complicado para as mulheres superarem as causas da sua insatisfação sexual ou sequer reconhecê-la em palavras. Muitas ainda balbuciam que o orgasmo não é tudo, nem sequer é o mais importante, não percebendo que também aqui se estão a auto-ludibriar para evitarem a dissonância cognitiva. Qualquer pessoa de simples bom senso sabe que a situação mais ou menos crónica de sexo sem orgasmo é altamente frustrante tanto para homens quanto para mulheres, qualquer pessoa de elementar bom senso percebe que a já anedótica dor de cabeça da mulher na hora do sexo ou o seu desinteresse pela actividade sexual são a consequência directa da antecipação de uma situação que ela não experimenta como prazerosa.
Continua a considerar-se que a sexualidade vaginal é mais madura e superior a clitoriana o que não tem qualquer evidência que a suporte e portanto parece mais do domínio dos mitos culturais do que da realidade, mas muito poucas pessoas se mostram interessadas em desmistificar este entendimento.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Sexo - uma fase patética

Actualmente a vida sexual da maior parte das pessoas parece atravessar uma fase verdadeiramente patética, muito por culpa da cultura porno. É espantoso o que o condicionamento dos filmes pornográficos pode fazer a homens e a mulheres.
O “sexo vulgar” – com intimidade, reciprocidade, afecto e amor – é percebido como coisa do passado por gente condicionada a ver mulheres plastificadas a serem violadas analmente. Os homens estão autenticamente impregnados de pornografia e as mulheres fazem todos os esforços por lhes corresponder com medo de que dêem á sola em busca de outras companheiras mais permissivas. Não é que lhes agradem as práticas sexuais a que têm de se submeter, mas é preciso mostrarem-se modernas e desempoeiradas. De resto, de há muito estão preparadas para se preocuparem pouco com o que lhes agrada e a não darem atenção às suas próprias necessidades.
No fim perdem todos, homens e mulheres não fazem amor, limitam-se apenas a macaquear os estúpidos vídeos porno que o mercado livre lhes permite consumirem a fim de livre e alegremente, se estupidificarem cada vez mais.