segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Violação – crime ao serviço da ordem patriarcal

A violação é um crime que atenta contra um dos mais elementares direitos do ser humano, o direito à integridade física que, nessa situação, é fortemente lesada. A violação é uma prerrogativa masculina que leva a mulher a ter receio do macho; a simples ameaça de violação molda profundamente a identidade feminina e, ao limitar as vidas das mulheres no seu quotidiano e nas suas opções, mina profundamente a sua independência, levando-as a perceberem-se como vítimas - fracas, passivas e, por inerência, inferiores.
 A violação tem sempre a ver com a opressão de género, mesmo quando é perpetrada contra outros homens, porque a intenção do violador é «feminizar» aquele que é violado.
A sociedade nem sempre encara a violação com a seriedade que tão hediondo crime exige. Basta lembrarmos o humor à volta do tema e a sua trivialização; chega mesmo a desculpar-se, assacando-se a responsabilidade à vítima. Não é incomum ouvir-se dizer que fulano ou beltrano violou porque se sentia rejeitado pelas mulheres, tudo se passando como se fosse um direito dos homens ter acesso aos corpos das mulheres. Partindo desta mesma premissa, em muitos países não é reconhecida a violação marital e, em muitos outros, quando uma mulher é violada pretende-se que a ofensa maior não é feita à mulher, mas ao seu marido, pai ou irmão de quem ela seria propriedade que ficaria, por tal facto, completamente destituída de valor.
Há quem pretenda que a violação não é um problema de sexo, que é um problema de violência. Mas esta tese esquece que existem ligações culturais e ideológicas muito fortes entre sexo e violência; esquece que é frequente a cultura erotizar a violência sexual; esquece que sempre que se entende a relação heterossexual como uma relação de domínio/submissão a violência está presente.

4 comentários:

  1. Por isso nós mulheres temos q lutar pela igualdade de direitos civis.
    Adorei seu blog.
    beijos, dani

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  2. Texto bem elaborado. A violência de gênero é tão implicita, passei pela experiência de colocar como critério para locar um imóvel a segurança que traria "a uma moça que precisa chegar em casa a noite". Fiquei pensando o medo que foi estruturado no meu aprendizado e que me ensinou que mulher não deve ficar na rua a noite, não deve andar sozinha a noite e buscar todos os mecanismos de proteção.O limite de participar da noite e da via pública por ser mulher.
    Beijos

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  3. Muito obrigada por ler e comentar!

    Bom, o que receiam tanto posso dizer-te o que é! é a possibilidade de perderem o lugar no pedestal, de deixarem de ter controlo sobre tudo, especialmente sobre as mulheres.

    no manifesto, eles culpam tanto a esquerda como a direita por darem ouvidos ao feminismo. Por isso, não sei se terão efectivamente um partido. No entanto, o conservadorismo leva-me a apontar para a direita (extremista, claro). Mas isso não é esclarecido no manifesto.

    esta "malta" (xD) é espanhola! Intitulam-se "Revolução Antifeminista" e são activistas na defesa das suas convicções, distribuindo, por exemplo, cartazes como o que divulguei no post "Afinal ELES é que são as vítimas" (http://diariodasfemeas.blogspot.com/2010/09/revolucao-antifeminista-afinal-eles-e.html)

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  4. concordo com este texto! Toda essa violência psicológica, de desculpabilização do homem e de culpabilização da mulher causa muito transtorno à mulher, levando a violada a sentir-se, ela própria, culpada por um sujeito se ter lambrado de exercer o seu direito adquirido de se poder "apropriar" do corpo dela. Ele, por outro lado, não sente que precisa de "permissão".

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