Na ordem patriarcal em que temos vivido e em que, em grande parte, continuamos a viver, as mulheres são condicionadas a interiorizarem a sexualidade masculina que se constitui como norma; isto é, a sexualidade que nos é apresentada como modelo é a masculina; esta realidade, todavia, é camuflada porque se aceita implicitamente que essa sexualidade também é a das mulheres.
A sexualidade masculina, pelo menos tal como tem sido apresentada, aceita e “deseja” que a relação sexual entre um homem e uma mulher seja uma relação de domínio/submissão em que a agressividade do macho contrasta com a passividade da fêmea. Se, na relação sexual, o homem deseja dominar a fêmea e se tira prazer disso, também pressupõe que a fêmea tem prazer em ser dominada e submetida. Dominar, com tudo o que implica de agressividade e de humilhação, e tirar prazer disso pressupõe encarar a violência – porque é disso que se trata - como algo desejável, como algo sexy, como algo glamoroso.
Este modelo sexual de domínio/submissão é reforçado, amplificado e transmitido pela pornografia “mainstream”, consumida não só pelos homens, mas também pelas suas companheiras que aprendem “o seu papel” e aprendem a canalizar os seus desejos sexuais em função dos desejos dos homens. Não dispondo de outros modelos, não conseguem perceber que afinal não tiveram oportunidade de construir a sua sexualidade, nos seus próprios termos, porque esses termos nem sequer existem e lhes foi pura e simplesmente imposta a sexualidade masculina. Neste particular, é necessário não esquecer que a sociedade e a cultura vigente ainda hoje condicionam as mulheres a não se sentirem a vontade para reflectirem sobre as suas experiências sexuais, com a agravante de que a própria linguagem que têm de usar para referir o sexo é uma linguagem que foi criada em sociedades sexistas e que manifesta e reforça esse sexismo porque muito claramente objectifica a mulher e pressupõe a sua passividade e submissão aos desejos do macho, como se esses também fossem os seus desejos. Para quem tem dúvidas sobre o que estou a dizer, uma simples enumeração de expressões conotadas com o sexo bem como o anedotário circulante pode ser esclarecedor.
Ora esta situação afecta as mulheres em geral, mesmo as mais jovens e aparentemente mais desinibidas; curiosamente estas, quando conversam sobre sexo, revelam com frequência uma ausência quase total de espírito crítico e na prática dirigem para si próprias o olhar masculino que interiorizaram sem de tal sequer se aperceberem. Porque são desinibidas não só nas palavras mas também nos actos, entendem-se por modernas e ignoram que apenas estão a dar novas formas e a justificar ideias antiquíssimas acerca de como as mulheres se devem comportar em relação aos homens.
Ainda recentemente assisti a um vídeo que mostrava mulheres jovens a falarem, muito desinibidas e entusiasmadas, das práticas sexuais, as mais variadas e arrojadas, que mantinham com os seus parceiros, essas práticas eram exactamente aquelas a que assistimos nos filmes pornográficos mainstream - que qualifico de sexistas. Mas havia uma coisa de que elas não falavam e essa coisa era o orgasmo. Ora, se sabemos que um número muito significativo de mulheres continua a não atingir o orgasmo através da relação sexual, fica estranho e a conclusão que tirei foi que provavelmente elas têm a mesma dificuldade em atingirem o orgasmo que a maioria das mulheres experimentam, mas esse problema que importava debater … bem, esse foi olimpicamente ignorado.
A sensação com que fico é que os homens tem muitas ilusões acerca da sexualidade das mulheres e estas, talvez por medo de perderem os parceiros, não ajudam a desfazer essas ilusões.
muito obrigada por visitares o Diário das "Fêmeas" e por comentares!
ResponderEliminarGostei muito deste post.. tem pontos de vista muito interessantes! :)
Obrigada também e espero que continues a visitar este blog que como se pode ver se encontra em inicio de carreira.
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