sexta-feira, 8 de abril de 2011

Sexualidade feminina – ficção ou realidade?!

Sabemos bem que as sociedades, de uma maneira geral, sempre procuraram limitar as experiências sexuais das mulheres, o que está flagrantemente comprovado pela exigência de abstinência sexual até ao casamento e pelo requisito de absoluta fidelidade no casamento. Estas práticas, mesmo no Ocidente, ainda hoje predominam e impõem-se de maneira tão rígida em outras regiões que determinam a condenação à morte, ou no mínimo a marginalização, da mulher, solteira ou casada, que as infringe. Estas práticas, embora impostas pelos homens e em benefício dos homens, foram assumidas pelas mulheres por processos de impregnação cultural.
A limitação da experiência sexual das mulheres é obviamente impeditiva da construção da sua própria sexualidade, pois se uma mulher se limita a ter relações sexuais com um único companheiro para o qual se «guardou», o que ela vai saber do sexo vai ser aquilo que o companheiro lhe transmite, o que temos de convir pode ser bastante redutor e até induzir em erro acerca dela própria e das suas potencialidades; por outro lado, impedida por constrangimentos educacionais de vocalizar uma experiência sexual já de si escassa, não vai ter oportunidade de se compreender, crescer, nem de se desenvolver e adquirir autonomia sexual. Mas há mais; como durante milhares de anos as mulheres foram impedidas de se exprimir livremente a todos os títulos e muito particularmente ao nível da vida sexual,  foram também privadas de termos próprios para se referirem à sua sexualidade ou para exprimirem os seus desejos, só lhes restando a opção de utilizarem os termos que os homens criaram para referir essa experiência, com implicações óbvias: são ‘obrigadas’ a verem-se a elas próprias através dos olhos dos homens. Um exemplo flagrante permite perceber o que está em causa: nas referências linguísticas ao ato sexual, constata-se que o vocabulário usado - as expressões utilizadas - aponta para homens ativos e mulheres passivas, homens que agem e mulheres que sofrem a ação dos homens, o que implica conceber o sexo como uma relação de domínio/ submissão, enfatizando a agressividade masculina e a passividade feminina; por isso é que a expressão que refere a passividade feminina no ato sexual, quando usada em contextos do quotidiano, equivale a um insulto e por isso é que a maior parte das expressões insultuosas se encontram ligadas ao sexo, como se este fosse poder, algo que só é bom para quem o exerce e mau para as mulheres que o suportam e que desejaríamos que os nossos inimigos também suportassem.
A partir da limitação da experiência sexual, por um lado, e da privação de linguagem própria, por outro, consegue-se que as mulheres se construam como objectos a serem manipulados pelos homens e moldem os seus desejos - que naturalmente não conseguem suprimir - nesses termos; assim, em boa verdade, se quisermos seguir uma linha coerente de pensamento, temos de concluir que a sexualidade feminina, enquanto feminina, é uma verdadeira ficção, porque foi imposta e moldada pela sexualidade masculina.
A sexualidade é a maneira como o sexo é vivido, e as mulheres, mercê destes pesados condicionalismos, vivem a sexualidade como submissão ao macho; os seus desejos, as suas fantasias, revestem formas decorrentes deste enquadramento no qual, para abreviarmos, é o desejo sexual do macho que define o masculino e perversamente, também o feminino.

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